Medicamentos para Ansiedade e Depressão: Quando São Indicados?

Thiago Rodrigues | 29 de junho 2025

A ansiedade e a depressão são transtornos mentais que impactam milhões de pessoas em todo o mundo — e, no Brasil, os números são ainda mais alarmantes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país lidera o ranking de prevalência de transtornos de ansiedade na América Latina e está entre os mais afetados por depressão em todo o mundo. Esses transtornos afetam a qualidade de vida, os relacionamentos, o desempenho no trabalho ou nos estudos, e até mesmo a saúde física.
Apesar da crescente conscientização sobre saúde mental, ainda existe muita dúvida — e estigma — sobre o uso de medicamentos. Quando, afinal, eles são realmente necessários? E quais são os cuidados ao utilizá-los?
Quando o uso de medicamentos é necessário?
A decisão de iniciar o tratamento medicamentoso deve sempre ser feita por um médico psiquiatra. Medicamentos para ansiedade e depressão são indicados quando os sintomas se mostram persistentes, intensos e interferem no funcionamento do dia a dia da pessoa.
Indicações comuns incluem:
- Quadros moderados a graves de ansiedade generalizada ou depressão maior.
- Quando há risco de suicídio.
- Quando a pessoa apresenta transtornos associados, como pânico, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) ou transtorno bipolar.
- Quando há histórico familiar de resposta positiva ao uso de fármacos.
- Quando a psicoterapia isolada não está sendo suficiente.
Nos quadros mais leves, a psicoterapia (principalmente a terapia cognitivo-comportamental, ou TCC), associada a mudanças no estilo de vida, pode ser eficaz sem necessidade de medicação. No entanto, a avaliação profissional é essencial para evitar a evolução do quadro.
Principais classes de medicamentos
Existem diferentes classes de medicamentos utilizados no tratamento desses transtornos. Eles atuam principalmente no sistema nervoso central, regulando neurotransmissores como serotonina, dopamina, noradrenalina e GABA.
1. Ansiolíticos
São medicamentos usados para controlar a ansiedade aguda, as crises de pânico e os estados de grande agitação mental. Os principais são os benzodiazepínicos, como:
- Diazepam (Valium®)
- Clonazepam (Rivotril®)
- Alprazolam (Frontal®)
- Lorazepam (Lorax®)
Características:
- Ação rápida, muitas vezes em minutos.
- Podem causar dependência física e psicológica, especialmente se usados por mais de 4 semanas.
- Usados com cautela e por tempo limitado.
- Contraindicados em pessoas com histórico de abuso de substâncias.
2. Antidepressivos
Embora comumente associados à depressão, muitos antidepressivos também são indicados para tratar transtornos de ansiedade. Eles reequilibram neurotransmissores cerebrais, principalmente serotonina e noradrenalina.
As principais classes incluem:
a) ISRS – Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina
- Fluoxetina (Prozac®)
- Sertralina (Zoloft®)
- Escitalopram (Lexapro®)
- Paroxetina (Aropax®)
b) IRSN – Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina
- Venlafaxina (Efexor XR®)
- Duloxetina (Cymbalta®)
c) Tricíclicos
- Amitriptilina
- Clomipramina
d) Atípicos
- Bupropiona (Wellbutrin®) – atua mais sobre a dopamina.
- Mirtazapina – sedativa, usada em quadros de depressão com insônia e perda de apetite.
Características:
- Início de ação: geralmente entre 2 a 6 semanas.
- Podem causar efeitos colaterais iniciais, como náusea, insônia ou aumento da ansiedade (geralmente transitórios).
- Baixo risco de dependência.
- São de uso contínuo, com dose ajustada individualmente.
🧠 Comparativo entre Ansiolíticos e Antidepressivos
📌 1. Indicação principal
- Ansiolíticos: usados para tratar ansiedade aguda, insônia e crises de pânico.
- Antidepressivos: indicados para depressão, ansiedade crônica, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno do pânico e outros transtornos do humor.
📌 2. Tempo de ação
- Ansiolíticos: atuam de forma imediata, com efeitos em minutos a poucas horas.
- Antidepressivos: começam a agir em média entre 2 a 6 semanas após o início do uso.
📌 3. Duração do tratamento
- Ansiolíticos: geralmente indicados para uso de curta duração (dias a semanas).
- Antidepressivos: indicados para uso prolongado (meses a anos), conforme a evolução do quadro clínico.
📌 4. Risco de dependência
- Ansiolíticos: possuem alto risco de causar dependência física e psicológica, especialmente os benzodiazepínicos.
- Antidepressivos: risco de dependência é considerado baixo, não causam dependência química clássica.
📌 5. Tolerância (necessidade de aumentar a dose para manter o efeito)
- Ansiolíticos: a tolerância é comum com o uso contínuo.
- Antidepressivos: raramente geram tolerância; a dose costuma ser estável por longos períodos.
📌 6. Necessidade de receita médica
- Ansiolíticos: exigem receita azul (controle especial), devido ao potencial de dependência.
- Antidepressivos: normalmente exigem receita branca comum, pois não são considerados controlados no mesmo nível.
Gráfico de uso estimado de psicotrópicos no Brasil
Estudos recentes publicados pela Anvisa e em portais como o Panorama Farmacêutico mostram que o consumo de medicamentos psicotrópicos aumentou significativamente na última década. O uso de antidepressivos cresceu cerca de 40% nos últimos 5 anos, enquanto o consumo de benzodiazepínicos segue em alta, especialmente entre mulheres acima de 40 anos.
Obs: como este é um texto informativo, um gráfico visual pode ser incluído para mostrar a evolução do consumo por ano, por classe medicamentosa e por faixa etária.
Alternativas ao uso de medicamentos
Antes de iniciar ou junto com o tratamento farmacológico, diversas alternativas e complementos terapêuticos devem ser considerados:
1. Psicoterapia
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes no tratamento de ansiedade e depressão, com ou sem medicamentos. Ela ajuda a identificar padrões de pensamento disfuncionais e a desenvolver estratégias de enfrentamento.
2. Atividade física
O exercício regular aumenta a liberação de endorfina e serotonina, neurotransmissores associados ao bem-estar. Caminhadas diárias, musculação ou atividades como dança e ioga têm impacto comprovado sobre o humor.
3. Mindfulness e meditação
Práticas que estimulam o foco no presente ajudam a reduzir a ruminação mental, os pensamentos negativos e a tensão física.
4. Sono de qualidade
Muitos quadros depressivos e ansiosos estão associados à privação ou má qualidade do sono. Criar uma rotina de higiene do sono é essencial.
5. Alimentação balanceada
Deficiências nutricionais, como falta de ômega-3, vitamina D e complexo B, também podem influenciar na saúde mental.
Cuidados no uso de medicamentos
O uso de medicamentos psicotrópicos requer vigilância médica constante. Os principais cuidados incluem:
- Nunca iniciar por conta própria. Autoprescrição pode causar interações medicamentosas graves, dependência ou agravamento dos sintomas.
- Não interromper abruptamente. A suspensão de antidepressivos deve ser gradual, sob supervisão médica.
- Informar ao médico sobre outros remédios em uso. Há riscos de interação com anticoncepcionais, analgésicos e outros psicotrópicos.
- Evitar álcool durante o tratamento. O álcool pode potencializar efeitos sedativos ou interferir na ação do remédio.
Considerações finais
O uso de medicamentos para ansiedade e depressão pode ser fundamental para a recuperação de muitos pacientes. No entanto, deve ser encarado como parte de um tratamento mais amplo, que envolva psicoterapia, autocuidado, apoio social e hábitos saudáveis.
Cada caso é único. Nem toda pessoa com sintomas leves precisa tomar remédio, e nem toda medicação provoca dependência. O mais importante é buscar ajuda especializada, seguir as orientações com responsabilidade e combater o estigma que ainda envolve os transtornos mentais e seu tratamento.
Fontes e referências
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
- Panorama Farmacêutico – Dados de mercado sobre psicotrópicos
- SciELO Brasil – Biblioteca científica eletrônica com artigos sobre saúde mental
- PubMed NCBI – Base internacional de estudos científicos em saúde
- Portal Minha Vida – Conteúdos sobre psicologia e bem-estar
- Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)